Muitas Saudades

Respiro pelo nariz até encher os pulmões totalmente de ar. Deito-o cá para fora de forma brusca sentindo o alívio no corpo, mas o peso da cabeça não sai. Continua a doer e na lateral é tão forte, que tende a tornar a visão desfocada. Entre múltiplos pestanejar tento ter uma visão completa do céu que olho. Às vezes parece que consegue absorver a nossa pressão por ser tão grande e tão omnipresente. Aproveito-me dele para conversar sobre o que sinto e embora não obtenha respostas, recebo uma espécie de abraço da natureza que diz sem palavras que está a olhar por mim. Esta sensação ajuda e até atenua a minha dor de cabeça, mas não consegue anular o conflito de sentimentos que teimam em abalar a minha estrutura. Será esse abraço da natureza que não me faz desistir e ainda ver o lado bom da vida? Ajudará certamente, mas não dispensa a presença de todas as pessoas que me rodeiam e que, mais ou menos explícitos, me amam. Quem mais me amou no mundo já eu não posso tocar, mas continua a emanar a sua força de guerreira para o meu universo. Vou seguir em frente por ela, por mim, por quem me ama, sempre com aquela lágrima traiçoeira a espreitar pelo canto do olho. Vou procurar um monte bem grande, repleto de erva e flores coloridas, para me deitar no chão, fechar os olhos e gritar até partir as vértebras, que tenho saudades tuas!!!!! Precisava tanto daquela tua festinha no meu rosto e de ouvir as tuas palavras sábias. Mas será que ninguém no meio de tudo isto percebeu que a vida eras tu? Ajuda-me pelo menos a gritar a pressão cá para fora, vai-me dando sinais, bloqueia os meus pensamentos e por segundos ajuda-me a viver aquele momento de infância em que tudo era feliz ao redor.

Energia do dia

Senti a agitação do mundo lá fora e lentamente despertei o olhar para a realidade de uma manhã de sol. Molhei os lábios com a língua de aroma a pétalas de rosa branca e fiquei a saborear o momento em que o pensamento ainda dorme. Começo a ficar com a saliva mais fresca e as papilas gustativas mais irrequietas a pedir que me levante e saboreie o dia como se fosse o último. O corpo obedece à ordem da gula e rapidamente o tronco emerge da cama quente de preguiça, vindo de seguida os pés tocar o chão. Aquando do toque sinto um choque de potência incalculável que percorre todo o corpo e grita até furar os tímpanos: acorda! Segui a corrente e liguei a aparelhagem interior, colocando o samba em volume alto para mexer o corpo ao sabor de ritmos quentes. Em sintonia com o sol sinto-me a aquecer e o puxão da boca transforma o meu sorriso num abraço contagiante ao universo. Grito BOM DIA! e desejo com sinceridade que todos, os que têm boa essência, sejam felizes e possam sorrir como eu. Olho para o céu e com o pensamento afasto as nuvens, abrindo caminho a um dia intenso, de gargalhadas pautado. Pinto os meus passos de cores estimulantes e entre o rosa choque e o verde alface, vou espalhando a energia por quem passa por mim e ganho asas para passar por cima dos pedregulhos que tornam o trajecto menos claro. Mantenho a simplicidade das emoções, numa mistura de inocência e embuste, e continuo a caminhar sem sobressaltos. Às tantas já estou a correr, salto, deito-me no chão e sujo-me, respiro o pólen das flores até espirrar de contentamento… fico ofegante por tanta energia, mas certamente feliz porque o dia é meu, o sorriso está cá. Estou vivo sabiam?

Pela estrada...

Danço ao ritmo das experiências que vou vivendo, procurando encontrar o lado alegre naquelas que furam o coração sem aviso prévio. A procura do lado alegre é muito mais que uma simples formulação de pensamentos orientados, mas é sim um sentir profundo que molda aquilo que sou para mim e para os outros. Passo pelas experiências felizes que iluminam a minha estrutura abandonada e cheia de ninguém, procurando que sejam assim para sempre – repletas de luz e encanto, para que o desencanto não venha mais… Corro pela estrada de acumulações de vivências e das muitas que deixo para trás, fica o desejo de a elas voltar um dia, para refinar o sorriso feito, as palavras proferidas… porque em todas elas existe qualquer coisa de sonho. Nem sei quanto andei, mas perdi-me muitas vezes pelas recordações que consigo visualizar de forma nítida. Sei que cada uma traz os porquês que me consomem, mas também lançam as ondas que me irão levar até outras paragens de classificação incerta: alegres ou tristes? A verdade é que o chamamento é feito. Com olhos postos no horizonte continuo a caminhar para lá e a cada passo pequeno vem uma enormidade de experiências que me fazem encher os pulmões e respirar fundo, numa tentativa desesperada de ganhar tempo para as compreender. Venham os ventos fortes, as chuvas ácidas, os tremores de terra… ninguém me vai tirar desta estrada de experiências não ligeiras. O que me interessa é que sejam intensas e me façam entregar à realidade ou ao sonho!? A linha aqui é ténue e sinceramente ainda me sinto confuso na avaliação das experiências fruto de sonho ou realidade. Nesta caminhada, pela estrada de curvas de contracurvas, por vezes não faço caso do que vivo, porque não entendo a razão ou emoção associada. Mas quero viver, disso tenho a certeza. O que não sei é se quero seguir apenas aquele sonho que invadiu o meu ser, ou se tenho forças para continuar nesta realidade de céu cinza. Por agora viro as costas, numa atitude cobarde… Só me apetece fechar os olhos, observar o escuro e respirar lentamente. Pode ser que me levem, sem eu ter de fazer algo por isso. Até isto não deixa de ser uma experiência… talvez a melhor para mim…

Viagem

Sorriso cor Jasmim,
Submerso de paixão,
Do escuro nascido,
Vem iluminar o céu.

Beijo de ar quente,
Voa para quem te ama.
Deseja os olhos doces,
De quem te quer ver.

Toque certo no rosto,
Deslizante pelas expressões,
Dá o carinho da alma tua,
Condena o ser à união.

Olhar regado de amor,
Ressuscita do fogo ardente,
Espalha esperança no ar,
Deixa ver além do horizonte.

Tu que conjugas os elementos,
Ordena que me amem,
Transforma-te e cria o paraíso,
Para que sejas o chão que piso.
Dá-me o caminho certo,
Viajo sobre ti,
Bebo o teu Sorriso,
Provo o teu Beijo,
Sinto o teu Toque,
Vivo sob o teu Olhar.

Saudades minha Estrela

Lembraste quando te pedia para me dares uma festinha no rosto e logo sorrias comovida ao tocar-me no rosto? Eu lembro-me. Todos os dias sem excepção procuro sentir o teu toque aveludado, vindo das tuas mãos pequeninas com odor a hidratante. A tua pele sempre foi suave e meiga como tu eras, és e serás para mim. Hoje ao deitar-me, amanhã ao levantar-me sinto o quentinho de quando estávamos enroscados no tão desejado ninho construído por nós. Sentia-te adormecer através da respiração progressivamente calma e compreendia os teus sonhos pelos impulsos do teu corpo. Sonhavas com a nossa vida. Eu também, embora sempre de olhos abertos, a tentar decifrar o código para activar esse sonho. A ansiedade também brotava pelos teus e meus poros, numa luta diária para que o futuro fosse dos dois. Hoje ao tentar idealizar o futuro sinto mais reservas, mas a ambição de lá chegar foste tu que a transmitiste. É por isso que ao acordar tento agir, para que quando realizar os sonhos da vida tu possas sorrir muito e até deixares escapar as tuas lágrimas luminosas, repletas de beleza. Quando o vento vem de feição sinto o cheiro do teu cabelo, a shampoo para bebés. É estranho como tu eras tão tu, com tantos detalhes únicos e que sempre te colocaram na minha alma como a força maior. Passava horas sentado no chão, contigo deitada no sofá, a pentear-te, revelando a todos o meu fascínio pelo teu cabelo de tons claros e de uma delicadeza impar. Tudo em ti foi perfeito, até a tristeza que sentiste pelo rumo cruel da vida. Motivaste-a tanto, que a tristeza tornou-se na alegria de estares ao meu lado, como se não existissem dois seres, mas sim Um ser Universal, uma única vida, um único sorriso, um único sentido para o Eterno. Ontem entreguei por ti o desejo de viver intensamente à tua mãe, através de um abraço e de um beijo, porque senti que assim querias e que sussurravas ao meu ouvido para eu não me esquecer. Em todos estes pequenos momentos eleges-me como a tua estrela guia e que concretiza a tua vontade de proteger todos os que gostas. És tão especial. És tão importante para mim como a própria vida em si. Diria mais. Porque a minha vontade é de a anular e de ir ter contigo para voltarmos a dormir agarradinhos no segredo do amor incondicional. Amo-te minha estrela.

Passagem ao mundo que é meu

Consigo ver a luz intensa através dos pequenos buracos da grade que insiste em bloquear a passagem ao mundo que é meu, diferente da normalidade da existência humana em sociedade. Apesar de distante consigo respirar o odor a liberdade, a sorrisos e atitudes espontâneas, a opiniões fortes e directas, a um mundo sem rodeios e onde a compreensão vai para além da dimensão terrestre. São tantas as vezes que me sinto a pairar sobre a linha fria do tempo, que nasce em mim a ira de não querer voltar. A revolta apodera-se do espírito vezes sem conta, não por incompreensão do mundo de todos, mas sim por impedirem a passagem ao meu mundo. Com défice de atenção tento responder às exigências desta realidade imposta e refugio-me nos cruzamentos com aqueles que são da minha espécie e que por momentos inesquecíveis me fazem sentir bem. Sufoco com frequência neste mundo obrigatório que quase parece uma doença crónica lamentável. Falta o Meu momento. Cansado do momento dos Outros procuro, numa busca cansativa e constante, uma falha do sistema que me permita passar para o outro lado sem ter de responder aos interrogadores: o porquê de ser assim, de pensar desta forma, de agir desta maneira… de ser eu, sem palavras meigas envolventes. Enquanto não encontro a escapatória, vou vivendo de olhar dirigido às estrelas longínquas, desejando ser uma delas vivendo da observação do mundo e sempre com aquela luz e energia que também me concederam à nascença. Chamem-me de louco, alienado do mundo obrigatório, chamem-me estranho, ausente, esquisito…. Classifiquem-me como quiserem, porque para os que nascem com a missão, o sorriso final será sempre feito de luz e amor.

Olhar teu, amor nosso.

Olhar de felino, desejo dos deuses. Porque me olhas com tanta crueldade num tiro certeiro à minha alma? Olhar de mar revolto, atracção fatal. Porque me puxas com força para ti, quando sabes que não teria forças para pertencer a outro ser? Olhar de nevoeiro, ânsia de descobrir. Porque desvendas os meus segredos com o simples pestanejar e me fazes sentir que já vivemos a eternidade? Olhar indisciplinado, sedução arrepiante. Porque me colocas no centro do teu universo e despertas a luz da estrela brilhante em mim? Olhar meigo, chama do sentir. Porque me fazes esquecer a envolvente e desenhas no meu corpo uma nova forma de viver? Olhar absoluto, vazio arrematado. Porque me fazes partilhar a essência e atiças a vontade de sermos Um para sempre? Olhar perdido, certeza de paixão. Porque fomentas a busca incessante de um amor imortal e excitas as minhas emoções? Olhar profundo, partilha de vida. Porque rasgo o teu céu com a chama de estrela cadente, tu proteges do alto o meu mundo com a ternura de um anjo. Olhar teu, amor nosso.